Ballroom e Youkoso / Welcome to the Ballroom (Anime)



Depois de um looooongo tempo na “prateleira”, pego Ballroom para assistir. Eu geralmente gosto de assistir aos animes depois de finalizados, pois é um masoquismo acompanhar os animes da temporada atual. Eu gosto de assistir uns 5 episódios de uma vez, não 1 por semana
Ballroom é um anime de 2017 e recentemente descobri que se trata de uma adaptação de um mangá... aparentemente ainda em lançamento (desde 2011).. o que faz bastante sentido porque a história pode ser estendida ad infinitum.
Os poucos comentários que eu vi sobre a série falavam sobre “personagens com pescoço enorme” e “visual impecável”. Gente. Não tem como conciliar essas duas informações. Mas ok.
Separei pois achei a temática interessante: dança competitiva. É, eu sou dessas que se interessa por coisas aleatórias e incomuns.
Resumo do enredo: rapaz (colegial, pra variar) descobre o mundo da dança competitiva e começa a aprender, gostar e competir. Ao longo dos 24 episódios são abordados seu aprendizado (constante) e os relacionamentos dos diversos personagens (amigos, companheira de dança e rivais) Fim.

É um anime bastante difícil de comentar porque ele me foi paradoxal (mais um, né). Por um lado, eu achei muito acima da média em termos de conteúdo... facilmente você tem vontade de assistir vários episódios de uma vez porque a trama, além de ser muito boa, quebra certas expectativas e clichês (alguns, nem todos hehe). Por outro, ele foi bastante constrangedor. O constrangimento vem por duas razões: feiura e exagero.
E é claro que a gente tem que meter o sarrafo antes de dar beijinho.
Gente, que design horrível. Eu estava preparada para lidar com longos pescoços e rostos de gosto duvidoso, mas os recursos utilizados para intensificar sentimentos, sensações e a caralhada a 4 beiram ao ridículo. Estou ciente que se trata de estilo de arte, e tals... mas é um estilo feio. É arte, sem dúvida, mas é feia. E feio não é relativo. Feio é feio mesmo.
“Ai mas eu acho bonito”.
Ta bom, você pode gostar do feio mas continua sendo feio. Beleza vem de métrica, harmonia, enfim... (Antes de me atazanar a vida sobre relativismo do belo, aconselho assistir “Why beauty matters – por que a beleza importa” Roger Scruton). Voltando aos personagens medonhos de Ballroom: Eles não são medonhos todo o tempo. Na maior parte do tempo o design e animações são ok.
O “problema” é quando o autor resolve tentar expressar todos aqueles sentimentos, emoções e tensão que envolvem a cena e nisso acaba deformando os personagens.
Literalmente.
Sorrisos ficam exagerados beirando a insanidade. Se a postura da mulher na dança é estar inclinada para atrás, por alguma razão o autor acha que fica legal a mulher quase encostar a nuca na própria bunda. Se o personagem está sob tensão e raiva, o rosto é alongado e rabiscado, parecendo o Pikachu encapetado! E assim vai.
Nesses momentos o negócio fica horrível. Dói. Constrange de tão bizarro. É um horror. Péssimo. É aquela coisa que ficamos com vergonha de assistir (tipo o Hyoga de Cisne sendo aquecido pelo Shun de Andrômeda... Pode isso, Arnaldo?.. não, não pode, mas japonês sabe como é, não tem limite, parece até brasileiro. Sigamos. )
Por outro lado, é um deleite visual quando a animação está “sob controle”. Rotinas, treinos e aulas retratadas.. é muito bonita e fluida a animação. As posturas e movimentos são muito bonitos.
O problema é quando os personagens “se empolgam”, e o autor não sabe mais o que fazer para retratar “tanto êxtase” na cena, dai transforma o personagem numa curupira sob efeito de heroína.


Vadre retro Satana!

Passados os problemas visuais, temos a boa surpresa que é o enredo.
Há algumas quebras de expectativas entre a primeira e segunda metade do anime. No começo parece que o personagem principal (Fujita) fará um par romântico com uma colega da escola também dançarina. Isso não se concretiza e a relação acaba se tornando basicamente admiração por ela (e sua dança). É bastante interessante o amadurecimento de Fujita em dois aspectos: auto conhecimento (expectativas sobre si e outros) e seu desenvolvimento como dançarino (que acaba se mesclando com o auto conhecimento).
É bastante realista as frustrações (e vergonhas) que envolve o aprendizado de algo novo e principalmente como é difícil avançar no aperfeiçoamento, mesmo tento certo talento em alguns aspectos.. de modo geral a mensagem que fica é que não acontecerão grandes milagres se você não investir tempo e esforço naquilo.
A partir do episódio 12 há uma certa mudança de foco no anime, incluindo novos personagens e o aperfeiçoamento de Fujita como dançarino juntamente com sua nova parceira (que diga-se de passagem é uma caixa de problemas).
Até o episódio 24 é praticamente uma terapia de casal entre os dois, totalmente diferentes, com visões e motivações diferentes tentando chegar em um objetivo em comum. Acho que nesse arco o anime fica mais refinado, suas analogias são mais interessantes e apesar de alguns clichês (sempre tem um personagem rico que oferece a casa de campo para acampamento de verão...) os dramas e problemas são bem consistentes...
Inclusive são tão consistentes que, como mencionei ali em cima sobre terapia de casal, os problemas de Fujita com sua parceira indomável ilustram bem a tensão existente do relacionamento entre homens e mulheres. E aqui tenho licença para puxar brasa para meu assado: Problemas existentes dentro de um casamento cristão.  


Dança de salão parece-me que ilustra perfeitamente o ideal de um dos aspectos do casamento cristão: é o homem que lidera, e em sua liderança assume o papel de moldura para o quadro que é a mulher. Quando a mulher assume esse papel, vira uma completa bagunça disfuncional. Uma eterna disputa entre o casal que resulta somente em frustração. Brilhantemente retratado entre Fujita e sua parceira de dança.
Que coisa mais bem feita o simbolismo feito no anime, durante uma profunda crise entre o casal de dançarinos, os personagens são retratados como crianças. A mulher, porém, tem aparência mais velha. O homem, mais infantil, apresenta-se incapaz de abrir as portas necessárias. A mulher espera que o homem tome a frente e abra a porta. O homem se mostra incapaz, com medo, e não o faz. Acontece o que ocorre quase sempre na vida real. A mulher toma frente e vai assumindo papéis que não são dela, arrombando portas que não cabe a ela.
A ansiedade e frustração femininas e a imaturidade e medo masculinas. Como uma dupla dessa pode se coordenar e dançar juntos.Lindo, lindo, lindo. Brilhante.

Mas sempre vai aparecer alguém enaltecendo esse tipo de personagem feminina (ou atitude feminina na vida real) como sendo o ideal de "força", quebra de padrões e a cacetada a 4. Mesmo que não passe de uma locomotiva desgovernada rumo ao precipício destruindo tudo e todos no caminho, e se orgulhando disso. 
É o mesmo tipo de pessoa que considera "não levar desaforo para casa", comportamento birrento, turrão e mimado como "personalidade forte". Sendo que ter uma personalidade forte seria justamente aquele que aguenta a frustração e permanece firme suportando adversidades. É, meu anjo, você não tem personalidade forte não. Quando você despiroca, impõe a todo custo sua opinião e tem ataque de pelanca quando é contrariado, você só está sendo fraco e um chato do kct mesmo. 

Mas voltando ao Ballroom e Youkoso. Saldo geral: positivo, mesmo com todos os problemas relatados. Em uma segunda temporada eu certamente assistiria. Espero que algum dia ela venha.




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